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recalques & outros poemas

por Murilo Petito Cavalcanti
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EPICURO

Epicuro em tempos de guerra
solapando o prazer dos escombros.
Na cilada de sinos e apitos
da guerra; no ócio, sorrio.

A dor é forte nos excessos
& a alegria pequena nos mosteiros.

O enigma da vida vivida
nunca esteve na bula dos remédios.

Caminhando sobre as pedras
nunca quis alcançar os céus
& as profundezas do mar, eu sei
não valem a brisa das areias.


RECALQUES

As culpas do mundo
trago para mim
e as que são minhas
não vivo; projeto
só fico com as dores
que aceito sentir.

O alimento do sonho mata a fome das crianças
os adultos precisam de outro alimento mas sentem à mesma fome.

Quis engolir as páginas do jornal
já que lê-lo não é mais possível
palavras retorcem de todo jeito
lâmina sobre os olhos.

Estralo os dedos; sinto o gelo das mãos
a urgência é da vida e não do poema.

O poema é um preenchedor de abismos.


EU JÁ SABIA

Superar a morte
impõe que se mostre
um corpo nu que
desabrocha a imagem
de uma coisa que não é
um corpo.
Do mesmo modo
a linguagem serve
para desorientar os nexos
recompor os léxicos
confundir com precisão
a nova ordem.
Tudo que se faz para seguir vivo
desacreditar a morte
como fim legítimo
dos objetos que deixamos
a emanar na entidade da
História
com a força do Xamã.

3 poemas de Murilo Petito Cavalcanti
3 poemas de Murilo Petito Cavalcanti

Murilo Petito Cavalcanti é professor de Filosofia e Sociologia em Araraquara-SP. Graduado e mestrando em Ciências Sociais (Unesp Araraquara). Ator formado pelo curso Técnico em Teatro (Senac Araraquara). Desenvolve pesquisas sobre cidades médias, enclausuramento e relações entre o corpo e a cidade. Recentemente publicou poemas pela Revista Habitat.

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